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Resenhas instantâneas – Festival do Rio – Mamãe foi ao Salão

 “Mamãe foi ao Salão” para mim foi o filme mais emocionante do festival. Não imaginava que a trama de três filhos que precisam lidar com a ausência da mãe, fosse me emocionar de maneira tão visceral, mas as lágrimas nos meus olhos comprovaram o quanto o filme é comovente.

 

O filme é de uma delicadeza tocante. Tem o tal carisma cedido pelas crianças – como eu disse aqui – uma composição estética brilhante, cores lindas, roteiro incrível, singelo, inteligente e envolvente. Dá prazer e promove reflexões, sem estardalhaços, de maneira natural.  

 

  O filme se inicia com um bombardeio de cores e luzes, e crianças dando início às férias de verão. A simples alegria cotidiana de ser uma criança contagia o espectador de maneira nostálgica, e não tem como não achar bonito uma mãe recebendo seus filhos com o bolo preferido destes. A harmonia da família parece inabalável, perfeita. O carinho da mãe pelos filhos e o prazer que as crianças tiram das coisas simples, são tocantes. Até que tudo muda, a mãe vai embora, trabalhar como âncora em Londres, para sobreviver ao abalo da traição do marido, e eles, então, se deparam com uma nova realidade, onde os falta a principal referência.

  

Dentro dessa mudança é a visão de Elise, a irmã mais velha, que merece destaque. Elise não é mais uma criança e, em meio às dificuldades, se vê obrigada a olhar por seus irmãos, floresce aí um espírito maternal e desenvolve uma maturidade forçada, e por ser forçada acompanhada de revolta. Ela vivia uma felicidade inquestionável, mas com a partida da mãe, não só perde suas tranças, como descobre a tristeza, o mundo se torna incompreensível e, portanto passa a observá-lo com mais detalhes, buscando respostas em dores que antes lhe passavam despercebidas. De repente, não olha só por seus irmãos, mas por todas as crianças da vizinhança, desmistificando o provérbio de que a grama do outro é sempre mais verde, Elise sente o desajuste de todas as famílias, de todas as pessoas.

 O filme aborda essa temática difícil, dolorosa, sem perder suas cores vivas, pois se apóia na leveza das crianças, na maneira alegre com que lidam com seus pequenos dramas, e dentre as grandes sacadas do filme está a cena delas brincando ao som de Happy Together (The Mamas and The Papas, cara! lindo!). O que a trama nos promove, é a descoberta dessas crianças de um mundo diferente, onde perdem suas referências e estranham a realidade, sem, contudo, perderam a felicidade e a esperança, a qualquer momento mamãe pode voltar.

Enfim, é belíssimo, um filme completo, com roteiro e estética maravilhosas e, o melhor, com carisma. Quem não se emocionar ganha pra mim o título de coração de gelo na vida inteira.

 

PS: O Festival acabou, mas “Mamãe foi ao Salão” está na repescagem.

13/10/09 – 17:30 – Espaço de Cinema

 

Escrito por Taís Bravo

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Arquivado em Fikdik, Resenha