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Incompleta interpretação de Antes do Amanhecer

(Pati, Natasha, Camila, Zaquinha…esse daí é pra vocês. Ê sentimentalismo.)

Houve uma noite muito ranzinza em que eu resolvi assistir ao Antes do amanhecer pela milésima vez e, para a minha surpresa, não gostei do que eu vi. Subitamente parei de ver o filme. Porque esse é um filme que eu não me permito criticar. Não permito, porque sei que se me desencantar com esta história, estarei condenada ao cinismo. Eu já admiti, não sou imparcial (nem desejo ser), além disso sou extremamente passional, o que eu gosto, amo, o que desgosto, odeio. Então, não sou capaz de escrever um texto sensato e crítico sobre Antes do amanhecer, considerem como uma interpretação (afinal, não deveriam ser assim todos os textos?).

Antes do amanhecer foi o primeiro filme que me fez ter vontade de trabalhar com cinema. O que me encantou, aos 15 anos (nossa, estou ficando velha), foi a capacidade de se falar sobre tudo em 100 minutos. Não adianta, o que me seduz é sempre o roteiro. E Linklater é um dos meus deuses dos roteiros perfeitos. A trama é simples: Um americano passa horas em um trem, até conhecer uma francesa, pela qual ele se encanta e vive um amor de um dia. É a maneira como esse argumento se desenvolve, a naturalidade de seus diálogos e, principalmente, o desejo presente em sua elaboração que o torna um filme inesquecível.

Há um desejo pertinente em Antes do Amanhecer e em outros filmes de Linklater, o desejo de viver. Viver em um sentido de conscientizar-se, perceber a incompreensão de se estar vivo, ter medo e coragem, valorizar esse estado e, assim, criar. Linklater, assim, sabe falar de angústias, mas também de liberdade e transformação. Esse desejo é acompanhado por outras idéias, explicitando possíveis filosofias de vida de Linklater. Por exemplo, toda a história de Antes do Amanhecer surge a partir do encontro entre dois estranhos que ao quebrarem um fluxo e permitirem-se um ato anormal (sair por aí com um desconhecido é algo muito temido por algumas pessoas, não é Natasha?), ganham a possibilidade de vivenciar algo novo.

A idéia de conhecer um estranho também é abordada em Waking Life. Tal idéia, em um mundo cada vez mais individualista, neurótico e solitário, é extremamente poderosa. A partir dessa disposição para se comunicar, se dedicar a um desconhecido, valoriza-se os seres humanos, nossas particularidades e universalidades, somos tão únicos a ponto de a solidão nos ser inerente, mas somos iguais o suficiente para sentirmos prazer em compartilhar.

Antes do amanhecer é um filme romântico, mas não se trata de um “e foram felizes para sempre”, pelo contrário, é um filme honesto sobre o amor, sobre suas doses amargas de ilusão e egocentrismo. O amor – que pode ser efêmero – da trama, nasce através deste prazer em compartilhar a vida. Lá estão, aqueles dois jovens, envolvidos, primeiramente, na emoção de terem coragem para fazerem algo diferente (convidar uma desconhecida para andar por aí, correndo o risco de levar um fora; sair por aí com um desconhecido, correndo o risco de ele ser um psicopata ou só extremamente chato, após 30 minutos de conversa) e depois, pela natural alegria de conversar, conhecer. O afeto surge por meio das conversas, das trocas, dos desabafos (presta atenção nos olhares de Celine quanto Jess conta sobre a aparição de sua avó).

É essa coisa bonita, de conhecer alguém, das primeiras descobertas, olhares tímidos, novas liberdades e esperanças. No filme, ainda há o fator de a descoberta ter graça além de si mesma, trata-se de dois seres que se sentem extremamente confortáveis juntos, resultando em conversas sem fim, nas quais um assunto sempre passa ao outro sem nenhuma conclusão.

Acho que Antes do Amanhecer é um dos filmes mais bonitos sobre o amor. Sobre como esse sentimento, – em todas as suas formas – mesmo incapaz de nos garantir felicidade, alivia e conforta uma existência propensa à angústia e à frieza. É na troca, no convivio, que se situa a razão mais reconfortante para se estar vivo (e isso vai muito além de romantismo…). 

“No, no, no, wait a minute. Talking seriously here. I mean, .. I, I always feel this pressure of being a strong and independent icon of womanhood, and without making… making it look my… my whole life is revolving around some guy. But Loving someone, and being loved means so much to me. We always make fun of it and stuff. But isn’t everything we do in life a way to be loved a little more?”

(Desculpa, rola uma preguiça de traduzir.)

Escrito por Taís Bravo

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